6.05.2011

Filipenses - Em busca do escritório prisional de Paulo


  1. O lugar

Entrando no corpo da carta, Paulo dá-nos a conhecer a sua situação real no momento da redacção desta carta. Paulo encontra-se na prisão (δεσμούς μου - Fl. 1,13), falando de um πραιτωρίας.

A partir dos diversos estudos referidos em aula, e desta situação existencial em que Paulo se encontra, poder-se-á tomar como hipotéticos locais de redacção desta carta Roma, Éfeso, Corinto ou Cesareia.

A hipótese de prisão pretoriana de Roma remonta a uma tradição do século II. Sabemos que lá Paulo esteve preso e que havia um pretório. As dificuldades que se colocam a esta hipótese são as seguintes: Paulo diz que um dos companheiros estava com ele, mas Actos não diz que Timóteo não o acompanhou a Roma; por outro lado, na carta aos Romanos, Paulo diz que o seu destino é as Hispánias e não Filipos, como ele o refere na carta; a distância que dista Roma de Filipos impossibilitaria tanta correspondência (estamos a falar de 1300 km, além de que o encarceramento parece muito precoce); por fim, o próprio termo “pretório” era também o nome do palácio dos governadores das províncias romanas, podendo não estar Paulo a falar necessária do pretório e da administração imperial da capital, e muitos eram os funcionários imperiais espalhados pelas cidades do império.

Uma segunda hipótese seria Éfeso. Algumas dificuldades se levantam. Éfeso não tem um pretório. Mas, usando esta palavra, estaria Paulo a aludir-se à casa do procurador de justiça? Sabemos, ainda, que Timóteo esteve em Éfeso. Porém, surgem alguns obstáculos: os Actos dos Apóstolos não dizem que Paulo esteve preso em Éfeso; a própria carta aos filipenses não trata da questão da colecta; contraditoriamente sabemos que Paulo expressa um certo isoladamente afectivo (Fl 2,19-21), mas em Éfeso sabemos que Paulo tinha uma família amiga.

A terceira hipótese, Corinto, tem a seu favor a proximidade geográfica, a presença de um procônsul, o facto de sabemos que em Corinto Paulo teve medo de ser preso, tendo aqui tido várias “partidos” opostos. Porém, Paulo também gozava de estima e esta hipótese é uma conjectura, não havendo dados que a sustente.

A última hipótese é Cesareia. Sabemos que Paulo esteve aqui preso, e que aqui havia os da casa de César, sendo esta cidade um interposto militar. O ambiente hostil coaduna-se com esta prisão. Os obstáculos que se prendem são a distância (mas pensando que Paulo esteve preso durante dois anos, é possível supor que existiriam contactos com a comunidade de Filipos), e Paulo está em Cesareia a caminho de Roma, tendo como horizonte alcançar o ocidente do império, a não ser que talvez ele estivesse a pensar apanhar a Via Egnácia a caminho de Roma e assim passar em Filipos.

  1. O tempo

Assim, a hipótese do lugar de redacção desta carta continua em aberto.

Quanto à datação da carta, Chantal Reynier, apesar da dificuldade que esta tarefa apresenta, sugere que ela terá sido escrita no ano 56, ou 58-60, ou 61-63. (Cf. REYNIER, Chantal - Pour lire Saint Paul. Cerf, Paris, 2008, p.82).

Se Paulo se encontrava em Éfeso, a data seria 56. Se se encontrasse em Cesareia a data seria 58/60. Caso ele escreve-se de Roma, a redacção situar-se-ia pelo ano 59/61.

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